terça-feira, 21 de setembro de 2010

Chuva de Música

Olho pela janela e chove lá fora
Fecho os olhos e ouço doce som
Perto da casa onde não vive, só mora
Um ser que arranca do piano o mais lindo tom

Notas intensas que saem do órgão
Melodia que dá vida aos raios da noite
Som inaldível para aqueles que não se importam
Confortável para quem leva do algoz o açoite

Música não lúcida, mas tão bela
Artifícios de um astuto compositor
Ritmo que acalma o coração da fera
Mandando embora a sua dor

Gotas que escorrem do céu para o chão
Gotas que saem de olhos tão tristes
Dedos deslizam pelas cordas de um violão
Transgredindo numa canção o que sentistes

No momento mais intenso da ópera
Um clarão ilumina negra nuvem
Embebidas de licor e trôpegas
Duas orquestras na chuva surgem

No topo de um prédio eu vejo a chuva caindo
Cada gota dá mais vida para a cidade
E as gotas não me tocam, mas estou sentindo
A chuva que desperta minha saudade

A chuva melódica toca fundo a minha alma
E as lembranças provocam uma mudança de estado
Mas a nova música, devagar, me acalma
Me auxiliando a abandonar o meu passado

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Devaneio

Linhas mortas se descrevem
Num arco-íris de cores
Só de olhar eles percebem
Se tu colheste belas flores

Linhas mortas que descrevem
A feição oculta de um ser
Eles chegam perto e medem
Os traços que constituem você

Linhas mortas desenhadas
Pela mão do mais nobre deus
Linhas tortas, emaranhadas
Nos cabelos que são teus

Linhas mortas, imperfeitas
Delicadas na afeição
Linhas mortas, tão perfeitas
Preenchendo o coração

Linhas mortas, agora escritas
Descrevendo outro poema
Pensamento de tantas vidas
Juntas num só dilema

Linhas mortas deitam no papel
Quando estou sozinha, sem você
Quando deixei dos teus lábios doce mel
Linhas mortas vieram me escrever

domingo, 19 de setembro de 2010

A Noite

O sol vai embora
E com ele vai a alegria
Todo um mundo lá fora
Sumiu quando terminou o dia

E já agora escureceu
Não vejo nada
Pois a minha luz não ascendeu
No meio da sua estrada

Mas a noite não traz consigo
Apenas o frio
Ela traz estrelas para brilharem comigo

Transformando minha lágrima num único fio
Um fio de cristal
Que se quebra no profundo vazio

Descubro que as estrelas de antes
Eram parte de outra lágrima que se quebrou
A lágrima de um dos amantes
Que escorreu do rosto daquele que ficou

Dessa mesma forma
No pranto de dois anjos distantes
É que o dia se torna
Noite em alguns instantes

E existe um momento
Que a minha lágrima se junta com a sua
A junção do sentimento
Forma o que hoje eles chamam de "Lua"

E assim se sucede
A noite enfeitada de sofrimento
Mas o sol hoje promete
Voltar com o calor do alento

E depois ele sempre volta
Com a luz que te traz para perto
E eu fico tão envolta
Sentindo que tudo é tão certo...

E toda noite eu choro
Enfeitando o céu a pensar
Que toda noite eu imploro
Para que o sol volte a brilhar

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Poemas Corretos [modificado]

Você me fala sobre rimas
Rimas ricas que eu nunca fiz
Me fala sobre ritmos enquanto ficas
A pensar n'outro canto infeliz

E me fala das oitavas
De sílabas tônicas no final
Os meus versos deitam nas escadas
Junto das rimas que escrevi tão mal

Não precisa seguir regras poéticas
Nem de padrões para escrever
Não quero palavras belas e estéticas
Quero os sentimentos que vêm de você

Mas os meus versos deitam nas escadas
Junto das rimas que escrevi tão mal
São seus poemas constituídos pelas oitavas
Que os encantam tanto no final

O Que Temes?

Diga-me, por favor
Temes que algum dia possas morrer?
Temes que caia num buraco
Temes que possas ser queimado
Temes o fogo e seu ardor?

Diga-me, alma perdida
Temes a escuridão?
Temes a partida
Precisar olhar para trás
E descobrir que tudo foi em vão?

Diz com sinceridade
Teu maior medo não era
Permanecer num abismo por toda a eternidade
Teu maior medo era morrer
E descobrir que nunca soube viver

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Reflexo do Espelho

Já faz um certo tempo
que eu venho me perguntando
Quem é a pessoa para quem eu olho todo dia no espelho
Aquele sorriso ensaiado
e os olhos que denunciam a minha melancolia
Aquele sorriso ridículo
que é distribuído a todos...

Diante das injustiças que um espelho reflete
vejo o mundo de antes
tão doce e calmo
vejo o mundo de hoje
destruído por aquele que vejo refletido no espelho
São prédios de arame farpado
São soldados mortos e prisioneiros de Guerra
São mendigos que pedem esmolas
e a poluição que sai do escapamento dos carros

Já faz um certo tempo
que eu venho me perguntando
Quem é a pessoa para quem eu olho todo dia no espelho
tanto tempo sem viver
tanto tempo sem perceber
Que resta o céu, intocado pela imagem
do reflexo no espelho
Já não mais refletido pela água barrenta
Vejo o céu refletido no espelho
e a seringa ainda fresca
O reflexo do céu num espelho
Mas já faz tanto tempo...

Não Sei Falar

Eu pensei que eu pudesse dizer
Qualquer coisa, a qualquer hora
Para qualquer um, principalmente você
Mas percebi que não dá pra colocar para fora
O que existe dentro do meu ser

Meus sentimentos não cabem em palavras
E meus pensamentos não conseguem se transformar
Simples frases ficam cada vez mais pesadas
Confusas, se prendem, e não consigo falar

Mesmo frustrada, preciso admitir
Independente de quem fosse
Eu nunca consegui me abrir
E isso não parte da minha vontade
Porém, da minha falta de capacidade

Mas o que eu posso fazer?
Nunca fui muito de falar
Para a minha inutilidade esconder
Tudo o que me resta e escutar

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Quem É Que Foi?

Por que é que criaram o Amor
Se ele é tão perverso?
Quem é que foi que criou o Amor
E fez com que estivesse sempre disperso?

Será que eles nunca pensaram,
Que existem consequências?
Será que nunca, jamais imaginaram
Que isso machuca as pessoas com frequência?

Por que é que criaram o Amor
Se ele trouxe consigo
A Saudade, a Ansiedade e a Dor?
Eu penso comigo...

Estar pronto para amar
É estar pronto para sofrer
É poder sempre dar
Para nunca receber

Mas quem é que foi que criou as lágrimas
Que correm soltas sem temor?
Quem é que foi que criou as lástimas?
Ah, sim! Este foi o Amor

Lágrimas de Dor, Lágrimas de Amor

Seus cabelos caem no seu rosto
Voam com o vento e vêm me procurar
E me fazem chorar com desgosto
Pela saudade que vêm despertar

O odor que é natural do seu corpo
Sem fragrância se espalha pelo ar
Seu cheiro invade o espaço, meu corpo
E sem querer começo a chorar

Seu rosto às vezes tão sério
Faz toda a sua beleza transbordar
O formato da sua face é um mistério
Que eu não consigo desvendar

E os seus olhos tão profundos
Seus olhos não me deixam descansar
Castanhos, me levam para mundos
Que me fazem outra lágrima derramar

E o seu sorriso, tão belo
Faz a harmonia despertar
Num sorriso tão singelo
Tão doce quanto o luar

Tu és simplesmente tão perfeito
Que me faz querer te afastar
Mas eu sei que estarei no seu leito
Quando a última lágrima rolar

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Nem Como Goethe, Nem Como Werther

Dormir...
Me parece a única forma de parar de pensar...
...de se desligar do mundo,
de deixar pra trás os problemas,
de esquecer dessas dores...

Dormir...
Oh, doce sonho que me leva para longe
que me afasta desse mundo
nefasto
escuro

Dormir...
Brilho intenso que se extingue
olhos fechados não vêem seu rosto
mãos atadas não tocam seu corpo
meu coração não sofre mais
ao dormir...

e me debato, procurando
de olhos fechados tateio,
encontro
apenas o ar ao meu lado
e acordo
Derramo meu pranto com as lágrimas
que estavam presas enquanto
eu dormia

Dormir...
Me parece a única forma de parar de pensar
em você
O único meio de conseguir esquecer
você

Parar de pensar,
Parar de sentir
Ah! como eu queria
para sempre dormir

...

Ao invés de ar puro
Fumaça de cigarro e poluição
Ao invés de sentir-se seguro
Dentro de seu lar existe agressão

As crianças não estão nas escolas
Estão nas ruas, procurando diversão
Depois acabam se vendendo, pedindo esmolas
Um vira assassino, outro vira ladrão

Adolescentes drogados
Garotas entrando na prostituição
Menininhos ricos e mimados
Outros rezam por um pedaço de pão

Ao invés de uma flor
Um tiro de canhão
Não há mais amor
Liberdade ou compaixão

A sociedade está ridícula
E o mundo finge que não vê
Que será destruída cada partícula
Tudo por causa de ganância e poder

sábado, 11 de setembro de 2010

O Sabor das Lágrimas

A lágrima de tristeza é bem salgada
E vem junto com a dor
Mas é fácil de ser curada
É só me dar muito amor

A lágrima da saudade também é salgada
Mas tem um gosto familiar
Faz me lembrar de quando sentávamos na calçada
Juntinhos, só para conversar

Já a lágrima de raiva é amarga
Cheia de mágoa e solidão
Mas não demora, não tarda
Para que evapore do meu coração

E a lágrima de alegria é tão doce
Quanto um beijo seu
Faz parecer como se você fosse
Somente e todo meu

Mas tem uma lágrima cujo sabor
Não dá para dizer
É uma lágrima cheia de amor
Como aquelas que derramei por você

Eu Me Lembro

De que servem tantas medalhas
Para pessoas que só causaram destruição?
Por que homenagear esses canalhas
Que não tiveram compaixão?

De que servem tantos títulos
Se na guerra só há ganância por poder?
De que serve ser lembrado como um mito
Se de qualquer maneira todos irão perder?

Por que toda essa raiva, de que serve tudo isso?
Todos dizem que já passou,
Todos dizem que deve ser esquecido

E as pessoas esqueceram
Esqueceram do amor
Dos que morreram

Hoje eu só lembro do medo e do terror
Das lágrimas nos olhos daqueles
Que para sempre tudo perderam

Meu Mundo

Eu vivo em um mundo onde não existe religião
Um mundo no qual todas as pessoas
Pensam com o coração

Eu vivo em um mundo onde não existe dinheiro
Um mundo no qual as pessoas se amam
E sorriem o tempo inteiro

Eu vivo em um mundo onde sempre há vida
Um mundo cheio de natureza
Um mundo onde não existe tristeza

Eu vivo em um mundo sem defeitos ou problemas
Um mundo que o Homem irá descobrir
E com certeza destruir
Desfazendo este poema

Sonho de Esperança

Nas ruas os carros passam
No céu só vejo poluição
Prédios as paisagens tapam
Não existe educação

Neste mundo cheio de crime
Solidariedade você pode esquecer
Respeito não existe
As pessoas não sabem mais viver

Fios conduzem eletricidade
Pessoas conduzem destruição
A paz está fora de órbita
Rosas morrem no chão

Dinheiro é prioridade
As pessoas só compram
Compram roupas, desculpas e faltas
E se esquecem da verdadeira felicidade

O que há com o mundo?
E com as pessoas então?
Será que com vontade e dedicação
Consigo achar uma solução?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Adeus

Quero parar o tempo
No sofrido momento
Em que tenho que lhe dizer "adeus"

Perdida em seus braços
Me encontro nos lábios
Que tão tristemente abandonam os meus

Ouvindo sua voz delicada
Do mundo não escuto mais nada
Simplesmente um susurro de adeus

Os seus olhos brilhando
E os meus se apagando
Meu corpo e o meu pensamento são seus

E a saudade começa
Antes mesmo que eu me despeça
E a sua força supera a de um deus

Mesmo escutando "eu te amo"
Dentro de mim eu te chamo
Mas tudo o que digo é "adeus!"

Devaneio Numa Tarde de Inverno

Sentada num banco
no meio da praça
Um pássaro branco
demonstra sua graça

O sol da tarde de inverno
deixa todo o cenário alaranjado
O pássaro chega tão perto
e tão docemente ouço seu canto delicado

Tiro do bolso uma folha
Com um pedaço de carvão começo a desenhá-lo
Fora triste a minha escolha
Já que ele voou antes que eu pudesse terminá-lo

Num princípio de desenho
e ao som da água que cai lentamente
Sonho com o mundo que não tenho
e com o canto do pássaro contente

São só folhas amareladas
que não existem nas árvores do inverno
São só folhas alaranjadas
pelo reflexo do sol do inverno

Folhas com versos
que deitam num banco
A água tão perto
de um pássaro branco